Se os sites de poker bloqueados pela "black friday" perderam muito de suas receitas com a vedação de oferecer seus serviços aos jogadores americanos, ainda lhes restava a imagem sólida perante o resto do mundo, onde as atividades permaneceriam normais e regulares.
Contudo, excluindo-se o PokerStars tanto a rede Cereus quanto o Full Tilt apresentaram problemas relacionados aos saques, mesmo com o pronunciamento oficial das autoridades dos EUA, garantindo os cashouts para jogadores americanos, bem como assegurando aos dois maiores sites de poker do mundo: o direito de "oferecer e facilitar aos jogadores residentes fora dos Estados Unidos a participação em jogos de poker online por dinheiro real."
E como todos sabemos, mais de 45 dias se passaram desde a "sexta-feira negra" e muita gente segue com dinheiro bloqueado tanto no Full Tilt Poker quanto no Absolute Poker (da rede Cereus).
A situação é dramática para os sites considerando-se que a ausência dos americanos (e da receita por eles gerada) e deveria ser compensada com investimento maior em outras partes do mundo (o que inclui a América Latina) alargando o mercado consumidor em regiões onde o online não sofre qualquer restrição.
Mas parece que os altos executivos do Full Tilt e Absolute se esqueceram de um conceito diretamente relacionado à fidelização e ao sucesso em qualquer negócio: credibilidade.
Após o choque dos indiciamentos e bloqueios promovidos pelo Departamento de Justiça dos EUA, era o momento de mostrar para o mundo que as atividades em outras regiões seguiriam normalmente, em especial no que diz respeito aos saques. Nem que para isso fosse necessário sacrifício, obtenção de crédito junto a instituições financeiras ou outras medidas para capitalizar as empresas.
Se fizessem como o PokerStars (que vem pagando os jogadores normalmente) não haveria motivo para alarmismo.
Com o passar do tempo, ao invés de tranquilidade, os jogadores do Full Tilt e Cereus experimentaram a aflição e a incerteza já que a grande maioria dos clientes ainda está sem receber.
Nem é preciso dizer que a situação se agrava cada vez mais e de fato os saques em massa devem trazer grandes dificuldades para as empresas e, é claro, frustram a captação de novos consumidores considerando-se que ninguém em sã consciência depositaria num site em que não se sabe "se e quando" os seus eventuais lucros nas mesas poderão ser resgatados.
A não ser que a situação se modifique rapidamente, não há como vislumbrar um futuro positivo para Full Tilt e Absolute e poderemos ver a ascenção de novas companhias, efetivamente comprometidas e preparadas para fornecer o que os clientes deste segmento mais desejam (e que não é nenhum favor): saques fáceis e rápidos.
Como se não bastassem todas as especulações, o temor generalizado e as incertezas que abalaram a credibilidade dos sites "maus pagadores", Phil Ivey ainda quebrou o silêncio e manifestou sua solidariedade aos jogadores e sua frustração pelo rumo que as coisas tomaram:
"Por muitos anos tenho tido o orgulho de me apresentar como um jogador de poker. Este grande esporte me levou a lugares que somente podia imaginar e fui abençoado com enorme sucesso. E com enorme pesar sou obrigado a fazer o seguinte pronunciamento.
Estou profundamente desapontado e envergonhado pelo fato dos jogadores do Full Tilt Poker não terem recebido os valores que eles ganharam. Estou igualmente envergonhado pelo fato de que, em razão disso, muitos jogadores não poderão participar de determinados torneios e tem sofrido danos na esfera econômica.
Não estou jogando nas World Series of Poker já que não considero justo participar enquanto outros não podem. Estou fazendo tudo o que posso para encontrar uma solução para o problema o mais rápido possível.
Meu nome e reputação foram atirados à lama pela inércia e indecisão de outros com relação aos jogadores de poker e eu me recuso a permanecer calado por mais tempo. Ingressei com ação judicial (em meio eletrônico) contra Tiltware relacionada às questões que envolvem contas de jogadores. Como vocês podem imaginar, esta não foi uma decisão fácil para mim.
Sinceramente espero que esta declaração possa inflamar aqueles capazes de resolver os problemas para que tomem medidas imediatas e gostaria de esclarecer que, até que uma solução seja encontrada para resolver definitivamente a situação dos jogadores, tanto dos EUA quanto do resto do mundo, dedicarei todo o meu tempo e esforços, assim como fiz nas últimas seis semanas, para encontrar uma saída para aqueles que têm sido prejudicados pela dolorosa lentidão dos procedimentos de saque."
Ainda que a atitude de Ivey seja louvável e demonstre a exata noção da sua responsabilidade por representar um site que hoje está literalmente em débito com seus clientes, isso não resolve muita coisa, ou melhor, não soluciona absolutamente nada.
O que ele disse não é novidade para ninguém e só teve grande repercussão por se tratar de um profissional do Full Tilt que, pelo que se diz, ainda possui participação societária na empresa.
Além disso é risível a história de não participar da WSOP por dois motivos:
1) Saber que alguém não fará a mesma coisa que você não pode fazer não torna sua privação menos frustrante.
2) Como dito acima, a hora era de demonstrar que tudo continua bem, com jogadores que representam os sites que enfrentam problemas em todos os fields, tranquilizando as pessoas (desde que seus discursos fossem acompanhados de ações efetivas das empresas em garantia ao DIREITO dos clientes), tudo isso para o bem dos sites e de todo o mercado.
No final das contas não foi o que se fez e agora parece que não há grande perspectiva de se recuperar a confiança dos jogadores no curto prazo.
Como dissemos recentemente, hoje em dia, jogar no Full Tilt se parece muito com jogo de "playmoney", onde fica aquela sensação de que se "ganhou mas não levou", o que, no dinâmico mercado do poker online é o que de pior pode acontecer a qualquer site, ainda mais quando não se trata de um site qualquer.
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