A culpa é sua!

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bad_beat.jpgNão há forma melhor de começar este post que não seja citando Raul Seixas, na música "Por quem os sinos dobram":

"É sempre mais fácil achar que a culpa é do outro
Evita o aperto de mão de um possivel aliado, é
Convence as paredes do quarto, e dorme tranquilo
Sabendo no fundo do peito que não era nada daquilo
"

E isso é exatamente o que acontece com a maioria dos jogadores de poker que, da boca pra fora, insistem em defender a prática como um esporte mental, jogo de habilidade e, repentinamente, quando sofrem com as perdas constantes, se apressam em culpar a SORTE do donkey que os eliminou e o seu próprio AZAR nas mesas.

Definitivamente o discurso é contraditório e tira todo e qualquer crédito de alguém que, dependendo do momento (e dos resultados), assume posições antagônicas e inconciliáveis a respeito desse jogo.

Em primeiro lugar, se você admite que o, poker é um jogo que privilegia a habilidade, a técnica, a estratégia qualidades adquiridas com muito estudo e dedicação, será que não haverá ninguém mais hábil e preparado do que você?

Infelizmente a resposta é essa mesmo, você não é um gênio do poker, e é claro que existem muitos adversários superiores e que, além de estudar e se preparar adequadamente, é importante encontrar um nível que possa ser batido, seu verdadeiro nicho neste mercado.

Se você insistir em negar esta verdade, se arriscar em níveis altíssimos e nadar em águas perigosas, depois de ser derrotado de todas as formas e acumular grande stress e sofrimento (além das perdas), você terá aprendido o que este artigo pretende demonstrar:

Sim, a culpa é toda sua!

Alguns desavisados podem tentar rebater com um dos sintomas típicos para identificação de um "culpado pelo próprio fracasso", o famoso relato de bad beats (que até já foi tema da campanha #NoChoro lançada no twitter).

Afinal, para muitos perdedores, não há culpa alguma se depois de colocar todas as fichas no meio da mesa, segurando um belo AA, no final da mão, aquele raquítico 22 do parceiro (chamado de donkey) trincou no river.

Está claro que o resultado da mão não depende mais de você, o que pode (e deve) ser julgada nesse caso é sua decisão antes de mover suas fichas para o pote e você ganhou, ou seja, conseguiu que um adversário 4/1 underdog se envolvesse contigo numa situação perfeita para dobrar suas fichas.

Nessa mão hipotética, está um perfeito exemplo da aplicação do Teorema Fundamental do Poker, apresentado por David Sklansky no clássico (e leitura obrigatória) "Teoria do Poker", onde diz:

"Quando um jogador joga de forma diferente daquela que jogaria se soubesse as cartas do seu adversário, seu adversário ganha e quando um jogador age da mesma maneira que agiria se conhecesse as cartas do seu adversário, ele ganha."

É importante esclarecer que este "ganho" mencionado por Sklansky não se refere à vitória imediata, ou seja, ganhar a mão, mas a vantagem obtida no longo prazo, ou seja, se as situações em que você tiver grande vantagem forem repetidas milhares de vezes, não há dúvida de que você sairá no lucro histórico e estará no seleto rol dos ganhadores.

E aí está outra grande diferença dos profissionais do pano para os amadores e peladeiros de fim de semana:

Os maiores jogadores de poker do mundo têm volume, jogam muito mesmo, só fazem isso da vida e não é uma, nem duas, três ou dez bad beats que serão o bastante para fazê-los mudar a forma com a qual enxergam o poker e atribuir, repentinamente, ao imponderável, à sorte ou ao azar, a responsabilidade integral pelos seus sucessos ou fracassos.

Por isso, se você joga um torneio por semana, e está há 1 ano sem nem mesmo chegar no dinheiro, não se julgue o mais azarado dos mortais, você simplesmente não tem volume suficiente considerando que os seus 52 torneios anuais normalmente são jogados por um grinder mediano em apenas 1 dia! Isso sem falar na quantidade de mãos jogadas, outro indicador de peso para avaliar seu jogo.

Neste caso amostragem é tudo e, para o seu ROI minimamente positivo trazer retorno palpável é preciso adicionar mais torneios à sua lista, grindar mais e perceber o quanto o número absoluto de eventos jogados pode efetivamente ajudá-lo a definir quem você realmente é nas mesas.

Isso falando de alguém que pretende ser lucrativo ou até mesmo se profissionalizar no poker. Porque, no caso de jogadores recreativos que têm no poker apenas uma fonte de diversão, a necessidade de volume somente se refere ao quanto o jogador precisa para se divertir e, normalmente, o resultado dos eventos é o que menos importa (ainda que seja ótimo ganhar sempre).

Por outro lado, não é possível negar que alguns resultados negativos, muitas vezes repetidos por algum tempo, a tal variância negativa ou bad run, podem tiltar até mesmo alguns profissionais e levá-los à uma perigosa espiral negativa, transformando muitas vezes campeões em donkeys num curto espaço de tempo.

A boa notícia é que também há uma forma de superar esses momentos e evitar com que os maus resultados transformem seu A game em alguma coisa indescritivelmente bizarra e, é claro, perdedora.

Os maiores nomes do poker sabem muito bem como evitar tal situação, é o chamado stop loss, nada mais que um limite de perdas imposto pelo jogador a ele mesmo e, quando atingido, é hora de parar com o jogo e fazer outra coisa, esfriar os ânimos, quem sabe até estudar suas hand histories, e voltar para o grind outra hora, até mesmo outro dia, outra semana (dependendo do estrago causado pelo tilt) para evitar mais prejuízos e retomar, com tranquilidade, o caminho do sucesso.

Mas o primeiro passo para implementar todas essas mudanças ao seu jogo é reconhecer suas próprias deficiências e identificar seus pontos fracos, assumindo a inteira responsabilidade pelas bobagens que fez nas mesas e até mesmo deixando de dar muita importância a fatos episódicos e raros (mas que acontecem) como é o caso de quando você perde muito por cima!

Por isso, entenda alguns conceitos simples:

1) Poker é um jogo que privilegia a habilidade no longo prazo, se você não concorda com isso: a culpa é sua!
1.1.) Se você acha que a habilidade é realmente o que mais importa mas acha que não há ninguém melhor que você: a culpa é sua!
1.2.) Se apesar de pregar em favor da habilidade, você não estuda, não se dedica e não leva o poker a sério mas ainda assim pretende ser um vencedor: a culpa é sua!

2) Para o longo prazo chegar é preciso volume, uma quantidade relevante de eventos jogados, para que sua vantagem lhe traga retorno concreto. Se prefere negar essa verdade: a culpa é sua!

3) Se você não reconhece o tilt: a culpa é sua!
3.1.) Se mesmo reconhecendo o tilt você continua jogando, e mal: a culpa é sua!

4) Se você nunca ouviu falar em stop loss, proteção e administração de bankroll ou outros detalhes relacionados à administração dos seus recursos e da sua carreira: a culpa é sua!

Se você, neste momento já se sentiu suficientemente culpado, a melhor notícia é esta:

Para mudar sua realidade perdedora no poker, só depende da SUA própria vontade!

Estude, analise suas mãos, assista os profissionais, veja o poker com outros olhos, que os resultados não tardarão a aparecer e isto é um fato!

Enfim, se começamos o post "tocando Raul", podemos encerrar com ele também e, coincidentemente com um trecho da mesma música "Por quem os sinos dobram":

"Coragem, coragem, se o que você quer é aquilo que pensa e faz
Coragem, coragem, eu sei que você pode mais."


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This page contains a single entry by Brazil Poker Pro published on March 13, 2022 4:49 PM.

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