O vício da vitória

Brazil Poker Pro
Vote 0 Votes

victory.jpg


Quem lê o título deste artigo, à primeira vista, pode parecer normal, aceitável e até desejável adquirir este vício. Afinal de contas, não só no poker mas em tantas outras atividades (remuneradas ou não), quem não quer vencer?


Mas o que vamos tratar não é o querer mas a obsessão por determinado resultado, algo muito diferente da ambição pelo sucesso ou do desejo de conquistas.

E a confusão se justifica porque, na maioria das vezes, a palavra vício vem acompanhada de outra com uma carga negativa ou que, mesmo sem ter carga negativa por si só, ao se tornar um vício adquire naturalmente esse caráter.

De todo modo, a vitória dificilmente é tida como um problema ou a representação de um mal do qual temos que nos afastar. Quando falamos em poker, então esta conotação positiva fica ainda mais evidente porque, desde os maiores profissionais até os mais bizarros fishes, todos desejam vencer, muito embora poucos consigam de forma consistente e convincente.

Pensando nisso deveríamos concluir que ser viciado na vitória é uma grande qualidade que deveria ser cultivada por todos aqueles que buscam o melhor para si.

Mas isso está longe de ser verdade, em especial no poker.

Em primeiro lugar, porque quando se adquire tal mal, o prazer trazido pelas vitórias passa a ser o maior objetivo ao invés de representar a consequência natural para quem busca os melhores resultados e as mais diversas conquistas.

Vitória não é o objetivo mas a recompensa!

Você deve estar pensando agora mesmo: "Mas então quer dizer que quando me registro num torneio ou me sento numa mesa de cash game não devo querer ganhar?"

A resposta é simples: claro que deve! O desejo pela vitória é o que move a maioria dos grandes campeões, muitos dos quais chegam a ser chatos de tão perfeccionistas e dedicados. O que discutimos aqui é um comportamento obsessivo, do qual devemos nos afastar, e não a vontade mais natural do mundo que é a de ser bem sucedido em qualquer coisa que se faz.

E acreditem, aquelas histórias de gente compulsiva pelo jogo, que usou o poker ou qualquer outra forma de competição (que poderia muito bem ser saudável) para satisfazer sua obsessão, cujo final triste todos conhecemos, na maioria das vezes não foram movidas pela vontade de se ganhar o tal "dinheiro fácil" ou de simplesmente se divertir, mas a manifestação do tal vício da vitória!

E esse é o mal que fez com que muita gente se perdesse pelo caminho. Por exemplo, os bingos, tão explorados no Brasil por tanto tempo, se valiam desse vício para garantir a casa sempre cheia. Isso porque os frequentadores (jogadores) não percebiam que perdiam no longo prazo, ou se percebessem, uma simples vitória que não fazia deles positivos financeiramente (algo impossível nesse típico jogo de azar), lhes garantia a droga para seguir "grindando" em busca de mais sensações daquela (quando a casa parava para ver um funcionário levar aquele trofeuzinho mixuruca até a mesa do "GRANDE CAMPEÃO").

E o mesmo ocorre com os praticantes de caça-níqueis. Alguém aqui consegue ver alguma diversão em depositar moedas, apertar botões e puxar alavancas repetidamente? Mais que isso, alguém em sã consciência consegue acreditar que a atividade pode ser lucrativa no longo prazo? A resposta é óbvia. Mas os viciados na vitória não pensam assim, querem sentir aquilo mais uma vez, experimentar, por ao menos alguns minutos (ou segundos), a sensação de vencer e poder se orgulhar de alguma coisa na sua vida.

Esse é o perigo de se tornar um viciado pela vitória ou por qualquer outro resultado positivo.

E o mais perigoso é que o distúrbio não é claramente preocupante. Ele se esconde sob a forma de "hábito", "diversão" e até mesmo na fantasia requintada do "desejo de ser vencedor", coisa que ninguém recrimina olhando de longe.

E o vício acaba sedimentado e transforma-se em verdadeira compulsão quando as derrotas (tão comuns e até esperadas em jogos tipicamente de azar) perpetuam a abstinência e fazem com que o pobre jogador continue praticando quaisquer dessas atividades que possam lhe trazer aquela sensação maravilhosa de novo.

Assim, o motivo pelo qual devemos evitar a confusão, e transformar a consequência de nosso trabalho, estudo e dedicação no objetivo final de nossas vidas, é um só: mesmo em jogos em que a habilidade é fator predominante (como o caso do poker) é impossível vencer sempre!

Seu objetivo final deve ser fazer um bom trabalho, preparar-se adequadamente para vencer os obstáculos naturais que todas as atividades impõem, estudar, pesquisar, dedicar-se à atividade escolhida, doar-se a ela, que, ao final, o resultado positivo deverá aparecer naturalmente e será apenas a consequência de tudo o que foi feito antes.

Dessa forma, lembre-se: canalize suas energias em práticas positivas, em ações construtivas e que devem representar o alicerce para suas conquistas futuras, sem confundir o fim com o meio, a causa com o efeito, e faça da vitória um momento para celebrar todo o caminho trilhado com dificuldade até aquele momento mais que merecido.

Por isso, faça por merecer seus resultados e não transforme o momento chave do sucesso na satisfação de um vício que, em si mesmo, não quer dizer nada!

No TrackBacks

TrackBack URL: http://brazilpokerpro.com/cgi-bin/bpp-mt/mt-tb.cgi/69

Leave a comment

Cadastre-se

Brazil Poker Pro on FacebookBrazil Poker Pro on Twitter
RPM_Poker.gif
  • Assine Assine

About this Entry

This page contains a single entry by Brazil Poker Pro published on February 2, 2022 8:11 PM.

Superpoker Training was the previous entry in this blog.

Conhece-te a ti mesmo is the next entry in this blog.

Find recent content on the main index or look in the archives to find all content.