Matemática não é tudo

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math_image.jpg Lembro que no final de 2008, mais precisamente na última edição da Revista Flop, li a coluna do André Akkari com singular interesse.

Naquela oportunidade, o renomado profissional brasileiro, discutia a respeito da importância da matemática nas decisões que tomamos na mesa de poker e concluiu pela relativização dos cálculos estatísticos em prol de outros fatores que devem nortear o jogo de um vencedor.

O resumo da idéia transmitida por Akkari era: não deixe conceitos matemáticos imporem a você a meneira como joga, ainda que algumas situações pareçam matematicamente favoráveis a você, principalmente no começo e no meio do torneio.

A tirania da matemática(que só atua na vida daqueles que assim permitem) faz com que a grande maioria dos jogadores dependa do seu favoritismo puramente matemático em determinada mão para sobreviver no torneio e, quando bate aqueles 5% para o adversário no river, o perdedor acaba culpando a má fase, sua conta ou o software desconsiderando que tal desfecho é normal.

Lembramos que 20%, 10% e até 1% de chance de se levar alguma mão é pouco, muito pouco, ou praticamente nulo, mas nunca inexistente.

Note-se que aqui não estamos discutindo a respeito da variância que, quando negativa, faz com que movimentos lucrativos não obtenham o resultado esperado. E defendemos que as tais decisões mais corretas e lucrativas devem ser embasadas em diversos fatores e não somente no aspecto matemático de determinada mão jogada.

Assim sendo, se existem outras ferramentas para que você consiga se dar bem em torneios multitable, por que deixar a sua vida no evento nas mãos da matemática?

Akkari, brilhantemente, ainda lembrou que o seu primeiro objetivo no torneio é sobreviver e, se você for o último a ficar vivo, será o campeão. Essa idéia é um tanto quanto óbvia mas, estranhamente, parece ser esquecida por muitos jogadores.

Cansei de ver alguns jogadores, no primeiro nível de blind, abrirem raise preflop de 25, 40 e até 50 big blinds. Obviamente esses movimentos indicam que aquele jogador não foldará preflop nunca mais, dado o comprometimento do seu stack na mão(considerando blinds 10/20 e stack inicial de 1500 fichas).

Nesse caso, das duas uma. Ou o raiser vai levar apenas os blinds ou se envolverá em situação absolutamente desfavorável logo no começo do evento. E por desfavorável não considero apenas o fato de poder estar perdendo de longe preflop(imaginando-se que o raise astronômico seja KK e encontre AA pela frente) mas também o fato de se envolver com outro jogador que tenha aqueles famosos 20% ou até menos e, por ser mais maluco que o raiser original, coloque todas as fichas no pano logo no primeiro nível de blind.

Na situação acima, depois que todas as fichas vão para o centro da mesa, podemos dizer que o resultado estaria nas mãos de Deus, mas a divindade em questão é a matemática que, como todos sabemos, é uma ciência exata, fria e que não leva em conta a disparidade técnica dos jogadores ou outros fatores subjetivos do jogo.

Quando se joga apenas com a matemática, a leitura dos oponentes, o momento do torneio, elementos psicológicos(adversário tiltado, outro pressionado pela bolha e até mesmo a sua própria condição mental) são desconsiderados e isso é uma das grandes armadilhas que essa ciência exata pode apresentar para o jogador de poker.

Como todos sabem, este jogo complexo é composto por muitos detalhes e o conjunto dos detalhes é o que forja um campeão ou, sua ausência, que define um perdedor.

Além disso, vale lembrar que se a matemática fosse determinante para o sucesso no poker, veríamos muitos professores renomados desta matéria campeões dos mais diversos eventos, tanto online quanto live, e a formação sólida nessa ciência representaria um pré-requisito indispensável para o sucesso de cada jogador.

Mas não é o que ocorre, definitivamente.

O objetivo deste artigo, assim como foi o de Akkari, não é descredenciar a estatística ou o pensamento matemático aplicados ao poker, longe disso.

O que se defende é que há muitos outros elementos que devemos considerar a fim de neutralizar o fator randômico que indiscutivelmente está presente no poker, mais conhecido popularmente como sorte.

*vejam artigo do Akkari a respeito do tema, publicado na Revista Flop, nº 10, pp. 20/21.

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